terça-feira, 5 de novembro de 2013

Tradições


Hoje queria partilhar convosco uma tradição bastante antiga que continua a executar-se nos meios mais pequenos (aldeias) deste interior de Portugal, a qual desde pequena me habituei a ver e participar.

No dia de todos os Santos (1 de Novembro), depois de almoçar, homens vão pelo campo “roubar” lenha em grande quantidade, juntando-a no habitual largo de festividades da aldeia.
Por volta das 18/19 horas acende-se então a enorme fogueira e algumas pessoas (homens) vão estando presentes, sempre a “tratar” dela.

Depois de jantar, as pessoas saem das suas casas e vão-se juntando na rua, á volta da fogueira em franco convívio e animação, partilhando histórias ou comentando como estão familiares, vizinhos e amigos (para quem pensar em corte e costura…ás vezes também pode ser eheheh).
A este juntar á volta da fogueira, sempre ouvi chamar “velar as almas”, e por isso se costumava também rezar pelas almas, pois aliás no dia seguinte se celebra o dia dos “fiéis defuntos”.

Também é tradicional que durante o serão, se cozam castanhas, que foram “roubadas” durante a tarde pela malta nova nas terras que encontraram pelo caminho que percorreram; e, se prove o vinho da nova colheita.
Logo, desta forma se juntam: o convívio, a espiritualidade e os petiscos e bebidas da época: castanhas e vinho, ambos frutos de um ano de trabalho da terra.

Normalmente fica-se nesta fogueira até por volta das 24 horas (dependendo da persistência das pessoas presentes), mesmo que a noite obrigue a um agasalho mais incorporado, ou o nariz esteja prestes a congelar (risos), pois isto também se atenua com o calor que emana da fogueira que aquece vivos e “mortos” (espiritualmente falando).

Hoje em dia esta tradição (pelo menos no lugar onde a conheço) perdeu adeptos, já não se junta tanta gente como antes, as castanhas e a lenha não se roubam, e a gente que se junta já não faz as habituais rezas. Se nos meus parcos 28 anos a tradição alterou de tão grande modo, imagino como a verão hoje as gerações anteriores…

Este ano senti esta tradição com maior intensidade, não sei bem porquê… Estive pouco tempo nesta fogueira, contudo a intensidade com que senti toda esta época (dos santos – que nestes meios mais pequenos é muito vivida), foi talvez maior que nos outros anos…

(…)

Deixo-vos com imagens de duas das muitas fogueiras a que assisti/que vivi ao longo dos anos.


Local: Onde a memória não deixa perder as nossas raízes…