quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Testemunho de uma voluntária


A faixa etária da terceira idade tem sido esquecida na nossa sociedade actual. Muitos são os casos que vemos diariamente de abandono, de maus tratos, de pouca tolerância e compreensão com os mais velhos.
Ao contrário das populações do Oriente, em que o idoso é visto como “um poço” de sabedoria e ensinamentos, pelo contrário, nós, no Ocidente, distinguimo-nos pelas piores razões, não lhe dando o devido valor.

Neste contexto, o programa “Recados e Companhia” tenta cortar e modificar esse “repúdio” à terceira idade, tendo por objectivo que a população jovem ajude, valorize e compreenda a terceira idade em todos os seus aspectos psicológicos, necessidades básicas, enfim uma perspectiva biopsicossocial da pessoa humana na sua última etapa de vida.
De facto, os jovens de hoje, pouca noção aparentam ter do que é ser-se velho e muito menos pensam que um dia, se lá chegarem, vão ser eles mesmos a vivenciar a velhice. Também neste aspecto, este programa é uma mais-valia na sociedade que temos, arriscando-me mesmo a dizer que sem dúvida, todos os jovens deveriam passar por esta experiência. Decerto que faria com que aproveitassem a vida de uma melhor forma.

Porque ser-se velho não implica só situações negativas como solidão, “casmurrice”, doenças, incapacidades, tristeza; mas com toda a certeza temos o lado positivo como a sabedoria, a alegria de viver (mesmo com a consciência de que se tem menos tempo de vida), os ensinamentos, o carinho, a ternura, o valor que se dá aos pormenores mais importantes da vida, por exemplo um pouco de companhia, que numa outra faixa etária não seria possível. Porque pela passagem de toda uma vida, eles sabem dar mais valor a todas as experiências e tirar delas o melhor partido.

As histórias que passaram, que às vezes tanto podem levar-nos às lágrimas de tanto rir, como ensinar-nos autênticas lições que a nossa “pequena vida” ainda não nos pôde ensinar; sem esquecer que eles são os testemunhos vivos de um passado que nós não conhecemos, de um mundo que se altera tão rápido, que em 50 anos pensamos ter mudado de país e de cultura.

Nas histórias que nos transmitem somos confrontados com uma sociedade diferente, com regras diferentes, com objectivos e até vocábulos diferentes, algo que não se aprende num livro de História e só se pode aprender por esta maravilhosa transmissão de conhecimentos entre gerações.

Claro que também somos confrontados com os problemas e dificuldades da velhice, mas esse também é um dos pontos fortes desta ligação. Pois desta forma estaremos mais preparados para ajudar o próximo; mais alerta e mais sensibilizados para as necessidades da terceira idade; mais capazes de enfrentar um dia a nossa própria velhice, embora nunca o estejamos completamente.

Desta forma, no papel de voluntárias ao serviço da terceira idade, acabamos por marcar a vida destas pessoas, pois damos-lhe a atenção e compreensão que a maior parte das vezes lhes é negada simplesmente por “serem velhos”; e, por outro lado, através dos ensinamentos que nos transmitem, eles marcam-nos, de forma a que por mais que vivamos não nos esqueceremos nunca dos bons momentos que vivemos juntos.

Estas ligações estabelecidas não seriam possíveis numa outra faixa etária que não fosse a velhice. Pois nestas idades, como referi, carece-se de atenção e de actividades, é como se a sociedade se fecha-se aos mais velhos, por isso se dá muito mais valor a alguma atenção que se possa receber, é um bem mais raro nessas idades. Desta forma, as relações estabelecidas com a terceira idade são de uma intensidade impensável numa outra idade da vida.

Devemos dar mais atenção e valor aos mais velhos, pois além de nos formarem enquanto Seres Humanos, “eles” seremos nós próprios num futuro próximo. Digo próximo pois tal como nos transmitem tantas vezes, a vida apesar que tenha 70, 80, 90 ou 100 anos, passa tão rapidamente, que quando pararmos para reflectir e, querermos voltar atrás, será tarde demais. Saibamos viver pois só temos uma oportunidade para o fazer!

Estes e outros ensinamentos, assim como os que ainda irei receber, ganhei sendo voluntária, estando “no terreno” e recebendo cada carinho, assim como cada amargura de quem comigo os partilhou.


Continuarei a tentar fazer a diferença na vida de algumas pessoas!!




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